sexta-feira, 9 de novembro de 2012


Carta ao Ex!


“Prezado...” não, prezado não. É muito formal e, de mais a mais, não o prezo mesmo.

“Caríssimo...” ah não! Caríssimo? Caríssimo é algo de valor. Até admito que ele tenha lá um certo ar de grife, com aquele cabelo grisalho, aquele olho rasgado e aquele perfume importado,  mas daí a ele me ter algum valor, tá longe!

“Tom...” também não pode ser. Apelido é algo próximo que se usa com quem se tem intimidade. E esta, definitivamente, não temos mais.

“Sr. Antonio...” não, não... apesar dos meus quarenta anos, nunca fui fã dos coroas. Chamá-lo de senhor me remeteria a uma verdade que não quero reconhecer: já somos sim coroas, ele e eu.

 “Antonio...” é! É o seu o nome! Ficou bem melhor assim, até porque há tantos e tantos anos não o chamo pelo nome!

Primeiro era o apelido comum: Tom! Depois foram os apelidos íntimos: negro, amoreco, leãozinho (tigrão em alguns momentos...). Por ultimo já eram os apelidos doloridos: canalha, cretino, cafajeste!
É isso, encontrei a maneira certa de chamá-lo: pelo nome próprio.
Como se faz com o rapaz da farmácia, alguém que você conhece, mas não tem nenhum vinculo e nem quer ter.

Chamá-lo pelo nome é como cortar a fita que inaugura essa nova fase em nossas vidas.
Uma fase em que não comeremos cachorro quente na madrugada depois de uma noite de festa, não faremos mais piquenique no parque nas tardes de domingo, não veremos mais filme embaixo do edredom nas noites de inverno, não nos ligaremos muitas vezes por dia pra contar os mínimos acontecimentos, não dividiremos mais a mesma taça de vinho antes do jantar...

Essas lembranças até me deixariam triste agora se não viessem acompanhadas de outra fase. Uma que espero não viver nunca mais...
Fase das descobertas, das desilusões, de entender que ninguém pertence à ninguém e que nada é eterno. De ver a mala sendo arrumada, de tomar decisões práticas como mudar o nome na carteira de identidade. De ter que dividir as fotos e os livros, de fingir que está tudo bem só pra não dar o braço a torcer até a porta se fechar...

Engraçado agora poder pensar em tudo isso sem chorar, sem sofrer, sem me abalar! Tudo passa mesmo nessa vida, bem já dizia minha vó...
Tanto passa que na verdade já não lembro mais o que ia escrever a ele!

Ah, quer saber? Deixa pra lá! Vou pegar a minha bolsa e correr que já to atrasada pro meu pilates!






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