quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Poemas e Contos: Morreu o amor

MORREU O AMOR

EXISTIU UMA ÚLTIMA TENTATIVA PARA AQUELE AMOR
UM SOPRO DE VIDA, UM SUSPIRO FINAL
AQUELA VONTADE DIVINA DE SOBREVIVER QUE BATE À PORTA MINUTOS ANTES DA MORTE...

ONDE ESTAVAM OS MEDICOS??
POR QUE NÃO FIZERAM MASSAGENS??
CHOQUE, DILATAÇÃO DE VEIAS, OXIGENAÇÃO ARTIFICIAL??

NADA, NINGUÉM SEQUER MEXEU UM MÚSCULO PARA SALVÁ-LO
APENAS ELE, ALI, LUTANDO BRAVAMENTE PELA SUA SOBREVIVÊNCIA.

CANSADO, DESOLADO, DECEPCIONADO
O AMOR SE ENTREGOU, DESISTIU
SUCUMBIU À TENTAÇÃO DE NÃO LUTAR MAIS...

E MORREU, DEVAGARINHO, DOLORIDO, SOZINHO, INFELIZ
QUEM UM DIA PODERIA DIZER QUE AQUELE MESMO AMOR ERA TÃO VIVO
TÃO ALEGRE E FESTIVO
TÃO VERDADEIRO E ETERNO??

SERÁ O AMOR COMO OS ESPIRITAS DE ALLAN KARDEC??
TERÁ O AMOR DIREITO À UMA NOVA ENCARNAÇÃO
OU FICARÁ O AMOR ENTERRADO EMBAIXO DE SETE PALMOS
APODRECENDO, DECOMPONDO-SE...

SÓ MESMO O PRÓPRIO AMOR
PODERÁ ESCOLHER SEU FIM OU SEU RETORNO
À ELE CABE O SEU DESTINO.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Um pensamento solto que virou um post...



Todas as manhãs qdo vou pro trabalho, perto da escolinha do meu filho vejo um senhor sentado em frente de casa tomando um mate. Ele me transmite uma tranqüilidade, uma paz invejável. Sim, é exatamente este o termo certo pro q eu sinto ao vê-lo: uma invejinha branca de saber q ele já não precisa mais encarar um transito louco, atravessar a cidade e ir até um local fechado onde terá de se concentrar por no mínimo oito horas.

Fico pensando em como é a vida...

Qdo somos crianças queremos tanto crescer! Não temos vaga noção do quão delicioso é poder passar a tarde toda em casa, vendo sessão da tarde, desenhando e recebendo aquele bom e velho Nescau às 16h das mãos de nossa mãe. A única preocupação é “de que vamos brincar hoje?”.

Qdo somos mais velhos, já aposentados, contanto que haja saúde, é possível se viver de um tudo da melhor maneira possível! Os de personalidade mais quieta podem passar as tardes a cuidar de suas hortas no quintal de casa, os de personalidade mais animada podem passar as tardes dançando nas matinês!

Em ambas as fases é possível se desligar da loucura do mundo moderno e viver um mundo à parte, uma utópica realidade baseada na vontade de cada um.

A dureza é q existe um período intermediário de mais ou menos quarenta anos, vou repetir, QUARENTA ANOS, entre os 20 e 60, em que somos obrigados a conviver com a realidade nua e crua. Dias e noites parecem mto próximos, o Natal parece vir logo depois da páscoa, não há tempo pra se ver os amigos, pra brincar com as crianças na praça, pra dormir mais do que seis horas... O transito é cruel, o dinheiro nunca é o suficiente, aquela decisão importante q tomei vou por em prática a partir de uma segunda-feira que nunca chega!

Me parece tão injusto... (deve ser pq eu to exatamente neste período né, pq a criança vai dizer q é justíssimo ela aproveitar agora q pode e o velho vai dizer q justo mesmo é ele aproveitar, uma vez q já passou por todo isso!) Enfim, cada qual com o seu motivo, mas todos na busca da felicidade!

Uma coisa é certa, de agora adiante, pelo menos nos finais de semana, eu vou tentar ser um pouco mais criança e um pouco mais velha e vou me permitir fazer aquilo q tenho vontade, transformando a realidade do meu dia a dia no mais próximo do q eu penso ser a realidade perfeita!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Poemas e Contos: O Flagrante Invertido


Eva tinha uns quarenta anos, cabelos negros e longos, coroa enxuta, bonita, bem cuidada. Os filhos já estavam adultos e não moravam mais com ela e Joca. Mas o tanto que Eva tinha de bonita, tinha de chata! Era do tipo fuxiqueira, que cuidava da vida de toda vizinhança e enlouquecia a cabeça de Joca falando deste e daquele.

Adorava contar sobre as vizinhas que traíam descaradamente seus maridos. Saiam às três da tarde com a desculpa de que iam pro cabeleireiro e na verdade iam era pro motel passar tardes de luxuria! Gabava-se com gosto dizendo à Joca que mulher mesmo era ela, cuidava dele, cuidava da casa, cuidava de tudo e não colocava um par de chifres para enfeitar a sua testa!

E Eva falava! Como falava! Quando começava a especular a vida alheia nunca mais parava! E Joca fingia que ouvia, fingia que concordava, fingia que estava ali, enquanto lia o jornal.

Certa tarde Eva foi ao salão. Passou horas lá dentro. Fez pé, mão, limpeza de pele. Ao sair, eis que Eva vê, ou pensa que vê, o carro de Joca entrando num motel próximo.

Enlouqueceu! Correu feito doida sozinha pela rua no sol escaldante do meio da tarde e foi até bem próximo do carro que ainda estava parado na recepção. Cretino! – pensou ela! Não sabia a placa do carro de Joca, nunca prestou atenção nisso, nem mesmo sabia dirigir. Mas era ele, era sim, a mesma cor, as mesmas rodas, o mesmo filme escuro nos vidros e principalmente: o mesmo adesivinho da família na traseira. Cretino! – pensou de novo – levando a nossa sagrada família pra dentro de um lugar daqueles! Ela o odiou profundamente e fantasiou com detalhes a mulher que deveria estar no banco do carona. Uma perua nojenta, bem mais nova e com marquinhas de biquíni que aparecem pra fora da calça de cós baixo. Enauseou-se!

Não perdeu tempo! Encheu o celular de Joca com um milhão de torpedos desaforados, do mesmo nível que ela pensava ser a tal fulana que estava com ele!

“Então Sr. João Carlos, passando uma tarde de pecado no Motel Lamour? Eu estou aqui, eu estou vendo tudo! Você me paga, quando chegar em casa todas as suas roupas estarão na mala! Cretino!”

E se foi, cega de ódio, ruma à sua casa.
Chegando lá...que surpresa! Não é que o carro de Joca já estava lá! Na garagem! Como ele podia ter sido tão rápido? Entrou correndo em casa e se deparou com uma cena que jamais podia imaginar: Joca de calção, sentado no sofá, lendo seu bom e velho jornal.

- O que você está fazendo aí?
- Eu moro aqui, ora!
- Mas... e o motel?
- Eu que pergunto:  e o motel?
- Mas eu vi você entrando, quer dizer, era um carro igualzinho ao seu!
- E o que é que VOCÊ estava fazendo no motel?
- Eu não estava no motel, estava no salão de beleza!
- Ah sim, da mesma maneira que as vizinhas aqui da redondeza...
- Ora Joca, não fale assi...
- Chega Eva! Cale-se! Pra você: Sr. João Carlos! Não era assim que me chamava nas mensagens desaforadas que enviou? Seriam elas pra encobrir a SUA tarde pecaminosa no motel sei lá o que?!
- Joca!
- Ali estão as suas roupas, Eva, dentro da mala, como você mesma sugeriu. Não passarei a carregar uma galhada pela vizinhança como você sempre falava dos outros!
- Mas Joca! Não! Me deixe...
- Não deixo nada, fora Eva!

E o pacato Joca a empurrou pra rua com suas malas! Fechou a porta e sorriu intimamente. Caminhou calmamente até a geladeira e pegou uma champagne que havia posto para gelar logo que chegou a primeira mensagem de Eva. 

Abriu a champagne e brindou sozinho! Deliciou-se com o silencio de sua casa. Deliciou-se com aquele pequeno engano que tinha oportunizado a sua paz... o flagrante invertido que o livrou do blábláblá diário de Eva.



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Poemas e Contos: Viver para sonhar, sonhar para viver

Esperando o melhor momento de seu dia, tomou um banho demorado, cuidando com carinho de cada parte de seu corpo de menina já mulher. Penteou os cabelos, passou um creme cheiroso que havia ganhado de uma vizinha, vestiu a camisolinha leve e transparente, já surrada do tempo.
Tinha 17 anos, cabelos negros e longos, pele aveludada e macia, olhos grandes e brilhantes e toda vivacidade que uma moça na sua idade possuía naturalmente.
Entrou no quarto sem fazer barulho e sem acender a luz, deitou-se com cuidado e fechou os olhos. Rapidamente adormeceu e mais uma vez foi ao encontro de seu príncipe encantado! (Sim, meninas nessa idade ainda acreditam neles, ainda que o dia a dia tente provar-lhes o tempo todo que eles não existem).
No sonho passeavam de mãos dadas, trocavam beijos ardentes e carícias de arrepiar a nuca. Ele a olhava com ternura e desejo ao mesmo tempo, a tratava como a uma princesa. Conversavam coisas bobas e fúteis, conversavam sobre as noticias que ouviam na televisão, riam fartos das bobagens que só os dois compreendiam.
Todas as noites eram assim, passavam momentos únicos juntos, ela sentia na pele seu toque tão real, sentia na boca o gosto doce de seus lábios, guardava na memória seu cheiro bom...
Amanheceu e ela acordou com o mesmo leve sorriso de sempre. Levantou com cuidado, pôs o vestidinho simples e remendado, lavou-se, botou água na chaleira para passar um café e até cantarolou sem sentir, tamanha sua leveza de alma!
Foi quando ele levantou... 53 anos, suado, gordo, barba por fazer... seu hálito que já impregnara o odor torturante da cachaça era insuportável. Sentou à mesa sem dar bom dia, esperou que ela lhe servisse o café e perguntou o que teriam pro almoço. Ela murmurou: o de sempre! Ele reclamou que ela não prestava pra nada, que mal negocio tinha feito com seu pai, que havia pegado no sono esperando ela deitar e ela nunca terminava aquele banho, a luz viria cara no fim do mês, ele não era escravo para trabalhar só pra ela, bla, bla, bla... ela apenas abaixou a cabeça e seguiu seus afazeres quando o viu levantar, pegar a carteira e sair pro trabalho.
Escolheu feijão, lavou roupa, cuidou da casa, não parou o dia todo, serviu a janta e fingiu arrumar alguma coisa até ele cair dormindo, o que não demorou muito uma vez que já tinha passado no bar da esquina e tomados umas biritas.
Foi então que ela...
...Esperando o melhor momento de seu dia, tomou um banho demorado, cuidando com carinho de cada parte de seu corpo de menina já mulher...