segunda-feira, 7 de maio de 2012


O que realmente tem valor na vida: um conto espirita

Honorato tinha quarenta e cinco anos e uma filha de dezoito. Amava aquela menina sobre todas as coisas na face da Terra. Não tivera outros filhos e nem queria, Laís o preenchia de uma maneira única...
Ele tinha uma posição econômica farta. Dono de uma empresa muito bem sucedida, desde sempre criou a menina com todo o luxo, escolas particulares, atividades extras diversas, clube, viagens, eventos. Era um excelente pai, atencioso e preocupado, entretanto, valorizava muito o ter, o poder, o status, o material. E ensinou a mesma coisa para Laís a vida toda.
Eis que um dia Laís se apaixonou por um rapaz. E este não era da sua mesma posição social. Era o balconista de uma farmácia que ela costumava frequentar...
O amor entre os dois foi imediato! Como dizia a canção “e mesmo com tudo diferente veio mesmo de repente uma vontade de ver e os dois se encontravam todo dia e a vontade crescia como tinha de ser.” Mas diferente da letra da música, a historia não teve o mesmo final feliz.
Preocupada com o que o pai pensaria desta relação, Laís começou a entrar numa neurose doentia. Precisava separar-se do balconista. Precisava não pensar mais nele. Um rapaz simplório e sem estudos não merecia toda sua atenção daquela maneira!
Mas quem disse que ela conseguia se o coração já estava tomado de paixão?
E o conflito interno a enlouquecia dia após dia... Pensava no rapaz, queria seu abraço, seu carinho. Pensava no pai, sentia vergonha por não lhe proporcionar o genro que sempre sonhou.
E nessa angustia alucinante, Laís, acostumada a  ter sempre tudo o que queria na vida, não soube lidar com a necessidade de escolha. Sentindo-se pressionada, achou melhor por fim à própria vida, a ter que optar entre o querido pai e seu grande amor.
O chão saiu dos pés de Honorato quando um telefonema o avisou que a filha havia bebido veneno no banheiro da faculdade e fora encontrada já sem vida.
Sem vida ficou o mundo dele... secou suas lágrimas, acabou-se em desespero... a esposa, como mãe também sofria muito a perda inesperada de sua princesinha, mas nada comparava-se ao martírio vivido por Honorato.
Foi então que ele mandou construir o maior mausoléu que o cemitério daquela cidade já vira. Puro mármore, puro granito, fotos enquadradas, flores e mais flores. E ali ele passava seus finais de semana, limpando, arrumando, enfeitando, conversando com a filha morta, na ilusão de estar fazendo algo por ela.
A mãe da menina voltou-se à caridade. Todo o glamour de antes perdera a graça e dona Marta passou a cuidar de crianças carentes, na esperança de preencher o vazio deixado por Laís.
Muitas foram as vezes que ela convidou Honorato à acompanhá-la. Muitas foram as vezes que tentou mostrar à ele o quanto haviam necessitados que podiam se beneficiar de sua atenção. Mas ele não queria saber de mais nada. Até dava dinheiro para as ações sociais, mas não envolvia-se, não enxergava ao seu redor nada além do mausoléu da filha.
Os anos passaram, dona Marta enredou-se cada dia mais com a caridade, assumiu famílias pobres onde custeou estudo e sustento das crianças e a saudade da filha era amenizada por cada sorriso que recebia em forma de gratidão.
 Foi então que com setenta anos Honorato faleceu. Teve um enfarto fulminante e serrou os olhos para sempre.
Já no plano astral, quando acordou para a verdadeira vida, a primeira pergunta ao mentor que o acompanhava foi:
- Onde está minha Laís? Posso vê-la? Preciso saber se ficou feliz com seu castelo que construí! Quero abraçá-la, quero beijar-lhe as faces, quero matar toda minha saudade da minha bonequinha!
Foi então que o mentor o chamou para conversar e explicou:
- Honorato, embora tenha cometido o pior de todos os pecados, o suicídio, sua filha recebeu uma oportunidade muito especial que é retornar brevemente após sua chegada à Terra. Reencarnou poucos meses depois do acontecido, com duas missões:
A primeira resgatar a falta grave ao tomar o veneno quando se deixou sucumbir à fraqueza e não tentou lutar por seus objetivos.
A segunda, ensinar-te à amar menos o material e mais ao teu semelhante, seja ele da condição financeira que for.
O coitado ficou desolado... mas então ela já havia reencarnado? Era verdade mesmo essa coisa que os espíritas falavam sobre nascer novamente?
E o mentor continuou:
- Por ter atentado contra a própria vida tomando veneno, sua filha destruiu suas cordas vocais do periespirito e por isso, retornou à Terra como pequena muda, filha de pais muito humildes, quase sem condições de criá-la.
Sua esposa esteve junto de sua filha por todos estes anos, amando-a e ajudando-a ainda que sem saber quem era, pois Laís está em uma das famílias que dona Marta assumiu em caridade.
Muito se tentou que você tivesse contato com ela. Isso teria acalmado o seu coração e ao mesmo tempo o teria ensinado o valor do próximo, seja ele rico ou pobre.
Mas tudo foi em vão, pois te tornastes obsecado por aquele castelo frio e sombrio que construístes para uma vida que não estava mais ali, naquele corpo.
Muitos são os que se iludem achando que belas flores e belas lápides fazem alguma diferença ao ente querido que já se foi.
Poucos os que entendem que estender a mão ao próximo mais necessitado é a maneira mais certa de se preencher o coração.
Mas não sofras nem te condenes Honorato. Vais renascer também daqui há alguns anos, desta vez como filho da tua filha, em condições financeiras bem restritas. E quem sabe assim ela consiga cumprir a sua missão e te ensinar o que realmente tem valor na vida.

3 comentários:

  1. Puxa, que lindo!
    Grazi

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  2. Fantástica história, pena que alguns senhores(as), ainda pensem que nesta vida terrena, as coisas que mais interessam a elas, são as materiais e se esquecem da parte mais importante em nossas vidas, que é o espírito. Seria muito bom que essas pessoas materialistas, lessem e compreendessem o teor da história em epígrafe. Parabéns!

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  3. Muito lindo Xu ainda não tinha lido este...
    e uma baita lição o material não tem valor se comparado ao espiritual no final das contas...
    Te amooo

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