Tem algum tempo que penso em
escrever sobre essa nova paixão que tenho em minha vida: o Tradicionalismo!
Queria tentar quebrar alguns tabus, da mesma maneira como se quebraram pra mim.
Queria tentar quebrar alguns tabus, da mesma maneira como se quebraram pra mim.
Os que me conhecem sabem que
sempre fui de noite, de festa, de balada, de mto rock clássico, pop rock e
pagode pela madrugada afora! Eclética que só, nunca dispensei tb um bom e velho
sertanejo de raiz, um reggae na praia, uma MPB ou um blues ao bom estilo Chuck
Berry!
Mas definitivamente, eu não
simpatizava com a música gauchesca. Alias, com nada da cultura gaucha. Tinha
pra mim que os tradicionalistas eram homens grosseiros e bêbados, fedendo à
fumaça de churrasco e mulheres submissas e apáticas. A parte da fumaça de
churrasco não deixou de ser verdade, viu, mas agora ao invés de “fedendo a” me
cai melhor o termo “cheirando a”.
Foi então que há uns quatro anos
atrás o Ataliba (meu marido) começou a frequentar o Harmonia com o primo
Marcelo. Tortura pra boneca aqui! Meu salto entrava naquele barral, minhas
roupas e meus cabelos ficavam defumados, a gente caminhava feito uns condenados
naquele parque, eu não conhecia musica alguma daquelas que na verdade me doíam
aos ouvidos, enfim, a treva! Neste meio tempo começamos a frequentar um piquete
(tipo de um QG Gaúcho) de uma coroa meio bipolar que às vezes nos tratava super
bem, outras nem nos cumprimentava e só pensava em quanto ia vender a cerveja ou
locar o espaço da churrasqueira. Esse piquete da coroa era meio fim de
carreira, só ia uns tiozinhos de bombacha xadrez e colete combinando, quase sem
dente na boca e que enchiam a cara de trago. A treva de novo!
O que me consolava era a presença
de uma amiga e comadre querida (minha grande parceira até hoje) a Aline, esposa
do primo, que me acompanhava na indiada. Mas nós íamos odiadas, ficávamos lá
com umas caras de bunda, mas na parceria com os maridos.
Detalhe importante: nossos
filhos, os meus e o dela, alheios a todo o resto, AMAVAM “ir pros gaúchos” como
eles diziam. E aí, caro leitor, eu pergunto: que mãe não se rende a um sorriso
de um filho?
Mas o Patrão Velho (Deus) olhou
pra baixo e no ano seguinte ao piquete da coroa bipolar nos conduziu a um
piquete novo. Um piquete de verdade, de gente que ama a tradição e que não tá
lá dentro pra ganhar dinheiro. Foi então que descobri o prazer de ser
tradicionalista!
O Piquete Dois Amigos é como uma
grande casa da gente. O patrão (responsável pelo piquete), seu Zé, tem o sorriso mais acolhedor que eu já
vi na vida e a patroa, Dona Jurema, é aquela mãezona/amigona que tanto te serve
um prato de comida campeira da melhor qualidade quanto se senta contigo e toma
uma cerveja parelho! E junto desses dois tem o resto da família, as filhas,
genros, o filho, amigos de todas as idades e de todos os lugares, gente que vai
se chegando e dali não sai, ano após ano.
Desse ano em diante passamos a
frequentar o piquete durante o ano todo e não somente no setembro. Deixamos de
ser os setembrinos (gaúchos só da época do Harmonia) e passamos a incorporar a
cultura.
E foi aí que descobri gente
alegre, homens guapos (bonitos) e xiruas (mulheres) lindas, família reunida, as
crianças participando de tudo o que fazemos desde um churrasco ao meio dia até
um baile à noite, sem que precisemos depender de ninguém pra cuidá-las.
Descobri um mundo de simplicidade, onde matear (tomar chimarrão) ao redor da
churrasqueira jogando conversa fora vale mais do que qualquer seção de terapia
com o psicólogo mais renomado, onde as músicas são densas com letras que falam
de paixão, de campeirismo (vida no campo) e da incrível relação entre homem e
natureza, onde o xucrismo (estilo de vida sem doma, sem formalidade) é sinal de
autenticidade e transparência.
No piquete a gente se reúne sem
máscaras, sem vaidades, sem se importar com a conta bancária do vivente (o
outro) e o respeito e a relação familiar são prioridades. Ninguém se importa de
cheirar a fumaça, porque nossas pilchas (indumentária típica) são feitas pra
isso, ninguém se importa de bostiar (pisar nos cocôs de cavalos, vacas, etc) as
botas, pois elas são feitas pra isso. Todo mundo pode andar com a faca
pendurada na guaiaca (cinto próprio pra isso) pois ela só será usada pra cortar
aquele costelão doze horas (costela que leva mesmo doze horas pra ser assada).
A comida campeira é farta e deliciosa, como a boa e velha vaca-atolada (carne
de panela cozida junto do aipim), ou o carreteiro de charque, o feijão mexido,
etc... e o único intuito disto tudo é nos reunirmos pra ser feliz, pra curtir e também pra reverenciar àqueles que em
1935 lutaram bravamente por um ideal e que assim viviam naquele tempo.
Sobre o Parque da Harmonia, eu
entendo que muita gente não goste. Primeiro porque ser setembrino é chato
mesmo. Setembrino não tem pouso e nem intimidade com aquele universo. Segundo
porque as pessoas tem uma ideia errada de que ir pra lá é ir pra caminhar feito
loucos, pra cima e pra baixo, enquanto o prazer está em parar em algum lugar
pra compartilhar com amigos. Terceiro porque “o barro, o barro, o barro”...
aff! Taura (pessoa valente, destemida) não se importa com o barro, porque não
estamos lá pra olhar se alguém ta limpinho e brilhante ou embarrado até as
canelas, estamos lá pra olhar no olho e apertar a mão e dividir um gole do
butiá (cachaça de butiá) mais pegado.
Tem gente bêbada? Tem! Como em
qualquer outro lugar (balada, carnaval, beira de praia). Tem gente grossa? Tem!
Como na fila do supermercado ou no caixa do banco. Tem gente feia? Tem! Como
agora mesmo do seu lado deve haver alguém! É tudo perfeito? Não! Tal qual não é
em lugar algum do planeta, nem no Vaticano e nem na casa da gente.
Mas tem gente de valor, tem filhos participando ativamente de atividades com seus pais, tem gente simples independente de quanto ganha, tem sempre um pouco de cultura ou um causo (conto gauchesco fictício ou não) a ser contado.
Mas tem gente de valor, tem filhos participando ativamente de atividades com seus pais, tem gente simples independente de quanto ganha, tem sempre um pouco de cultura ou um causo (conto gauchesco fictício ou não) a ser contado.
E fora isso tudo, tem no ano
inteiro alguma atividade, algum encontro, uma cavalgada (encontro de vários
cavaleiros), uma tertúlia (encontro de pessoas para cantar, recitar poemas,
contar causos), um churrasco, um baile, etc...
Buenas, espero que tenha
conseguido passar um pouquinho do que é este universo pra quem me lê. Não tenho
a pretensão de convencer ninguém a nada (embora sem duvida eu adoraria que meus
amigos participassem mais deste meu mundo). Só queria poder dizer que o
preconceito é o maior mal da humanidade. Enquanto conceituamos previamente sem
conhecer algo ou alguém perdemos muitas vezes oportunidades únicas de
experiências diferenciadas e muitas vezes de sucesso.
Não posso escrever mais, porque creio
que tem gente que já abandonou no meio do caminho! Mas preciso responder à
pergunta título deste post: o que é ser tradicionalista?
Ser tradicionalista é encontrar o
prazer nos momentos mais simples, valorizando a cultura e o modo de vida dos
precursores do nosso estado.
**Fora o bom e velho vestido de prenda e a pilcha masculina tradicional, existe a 'modinha Harmonia', porque gaúcho é grosso, mas tb é fashion tchê! eheheheh
**Fora o bom e velho vestido de prenda e a pilcha masculina tradicional, existe a 'modinha Harmonia', porque gaúcho é grosso, mas tb é fashion tchê! eheheheh
**Assista abaixo à algumas das minhas músicas preferidas, vai te encantas?!
Curti :)
ResponderExcluirEssa é uma qualidade que sempre admirei nos gaúchos: a exaltação às suas origens. Bom texto, flor. É sempre interessante conhecer novas culturas.
ResponderExcluir